sábado, setembro 02, 2006

ESTRANHO

Onde esta o Homem
Que invadiu minha vida,
E sendo ainda um desconhecido
Tomou posse de um lote,
No terreno vazio do meu coração?

Onde esta o Homem
Que derrubou barreiras,
Quebrou tabus
E fez despertar
A deliciosa magia do prazer?

Onde está o Homem
Que mesmo sendo um desconhecido,
Fez moradia, floresceu jardins,
Acendeu desconhecidas chamas,
Aquecendo tempestivamente o corpo?

Onde esta o Homem?
Aquele homem que com uma só palavra
Desperta doces desejos,
Ardentes e inebriantes chamas,
Que nos faz viajar em fantasias poderosas.

Onde está esse Homem?
Em que lugar, espaço ou tempo?
Está talvez na distância,
No limite entre dois mundos,
Ou simplesmente enraizado em mim?

Verônica Bastos
23MAI2001

segunda-feira, agosto 28, 2006

BOA AÇÃO

Hoje estou doando meus órgãos,
Mas não precisas de implante.
Estou fazendo uma boa ação.
Estou dando-te meu coração, meu amor.
Meus olhos, minha luz;
Meu cérebro, minha razão;
Meus pulmões. Minha vida.
Estou doando-te meus pés, minha estrada;
Minhas mãos, meu destino.
Estou doando-me inteiramente a te.

Tome meu coração para somar ao teu.
Pegue meus olhos e aumente teu brilho.
Aposse de meu ser, prolongue tua existência.

Hoje estou doando-me, pegue, leve.
Não me traga de volta...
Não preciso de mim, preciso de te.

Mas uma boa ação não pode parar.
Multiplique-a e devolva a mim.
Some meus órgãos aos teus, mas não os divida.

Não quero parte de mim
Quero-me inteira, completa, plena.
Quero-te todo teu, completo, pleno.

Estou doando-me a te para completá-lo.
Ser somada a tua existência, atua vida, a teu amor,
Compartilhar a soma entre nós dois.
Eu toda minha, você todo teu.
Você todo meu, eu toda tua.
Uma só existência de cumplicidade
Não de anulação.

Verônica Bastos

CULPADO

Percebo-lhes os olhares de longe
Mas nada sinto, nada me ofende.
Não tenho mais tempo para isso.
Percebo a repreensão em seus gestos.
Mas como ousa criticar-me?
Como ousa acusar-me com teus gestos,
Tuas palavras, teus olhares?
Não tem o direito de buscar o que já não sou.
Não sei em que parte do caminho me perdi,
Nem em que profundeza ficou minha essência,
Mas sei o que sou hoje.
Não tem o direito de julgar-me,
Sou apenas o que restou de tua perfídia.
Não o culpo; não me restaram sentimentos para isso.
Não há raiva ou alegria
Não há amor ou ódio, há apenas uma vida morna.
Não me culpe pelo que fizestes.
Não posso ser acusada do que me transformastes.
Os olhos sem expressão não são meus;
São os que tu me destes;
A fisionomia dura, não é minha;
É a que tu esculpiste em minha imagem.
A dureza dos gestos, a ausência de alma.
Nunca morou em mim
Mas foi em que me transformastes.
Porque cobra sentimentos,
Esquecestes que matastes meu coração?
Porque busca uma alma,
Esquecestes que a aprisionou em tempos remotos?
Não procure o que roubastes.
Não preciso que me devolva
Ainda posso renascer e apagar as cicatrizes.
Ainda posso libertar-me de te;
Mas não se esqueça que és um assassino,
E meu renascimento o condena a pena de morte.

Verônica Bastos
28AGO2006

quarta-feira, agosto 23, 2006

FOGO

Há uma chama em mim,
Que consome as entranhas,
Aquece meu corpo,
E ferve minha alma.

Tem uma chama em mim,
Que não contenta apenas em queimar,
Devora meu ser,
E adormece no calor dos corpos.

Existe uma chama em mim,
Que grita por liberdade,
Clama por afagos,
Aquece meu corpo e adormece no teu.

Verônica Bastos
21MAR2002

O MELHOR DE MIM

Pensei que fosse flores,
Mas encontraram em mim, espinhos.
Muitas vezes ferir;
Por milhares de vezes feriram-me.

Imaginei que fosse vida;
Mas acharam morte em mim;
Matei corações inocentes;
Muitas vezes esmagaram minha inocência.

Achei que fosse felicidade,
E ainda assim, em mim encontraram tristeza.
Várias foram os corações que machuquei,
Inúmeras vezes foram as que me machucaram.

Achei que fosse amor.
Mesmo assim encontraram ódio em mim.
Foram muitas às vezes que pisei sentimentos,
Infinitas foram às vezes que me pisotearam.

Por anos, meses, dias, horas...
Pensei, Imaginei, Achei, Acreditei,
Em flores, vida, felicidade, Amor;
Encontrei espinhos, mortes, tristeza, ódio.

Por anos pensei. Não fiz.
Por meses imaginei. Não vivi;
Por dias achei. Não fui.
Por horas acreditei. Não agir.

Por fim sou flores, vida.
Por minutos, sempre, sou felicidade, amor.
Não penso, não imagino, não acho, não acredito.
Apenas ajo, apenas vivo, apenas sou.

Verônica Bastos
05MAR2001

segunda-feira, agosto 21, 2006

AMIGO MEU


Que fazes amigo meu
Olhando tão sublimemente,
Perdido no teu íntimo,
Enamorando o infinito?

Que buscas no horizonte?
Em que sonho te perdes?
Não há tempo em te,
Tempo para o glamour do próximo.

Em que universo habitas
Que não te prendes ao instante?
Sucumbe em um vazio
Que colores de sonhos mortos.

É triste te ter assim,
Perdido num mundo só teu
Incapaz de me perceber
Tão perto e tão tua.

Que passas meu amigo?
Que acontece em tua mente brilhante,
Mas tão fachada em te
Num egoísmo displicente?

Que preço devo pagar
Em teu resgate amigo meu,
Para que se volte ao presente
E se perca nos braços meu?

Que vida procuras?
Em que tempo te sucumbes,
Que tomas minha mão
Mas viaja sozinho em devaneios?

Que passas amigo meu
No tormento do silêncio?
Que alma perturba teu sono
E apaga a realidade?

Que triste castigo tomas?
Quão pesada é tua cruz,
Que te curva as costa
E perdem-se os olhos?

Que felicidade tens aí?
Porque os relampejos de tristeza?
Venha, perca-se em meu colo,
Embriague-se de vida.

Porque te calas assim?
Escondes em teus medos.
Permita-me entrar, divida tua cruz.
Achochegues aqui em meu peito.

Porque ser herói?
Pode ser simplesmente homem
Tem em mim um porto seguro
O alento para teus medos.

Verônica Bastos
05SET2002

O PREÇO


Meu tempo...
Veja que me custa a alma
Olhar como quem vê pedras preciosas;
Sentir como se o mundo não existisse;
Falar, sendo que a voz me falta.

Olha que me custa a vida,
Desejar como quem tem fome,
Querer como quem sente sede.

Mira que me custa à existência,
Tudo sentir, tudo falar...
Tudo me custa.
Perceba! Custa caro.
Custa a vida
Amar e não te ter.
Mira? A vida me custa você.
Tudo me custa sem você.

Verônica Bastos

domingo, agosto 20, 2006

FANTASIA

Deixe-me sonha.
Quero apenas um tempo
Sem essa solidão no peito.
Quero sonha que existem príncipes,
Que os contos de fadas são reais.

Deixe-me sonha.
Quero uma casa de campo
Com jardins sempre floridos,
Ouvir o barulho do rio
E admirar a cerquinha branca.

Deixe-me sonhar
Que serei resgatada pelo amor,
Que não mais terei solidão,
Que beijarei meus filhos,
Dormirei com meu amor
Acariciados pela felicidade.

Deixe-me sonhar
Que a vida é fantasia,
A realidade sonhos dourados,
E que todos os dias
A vida me beija feliz
E que a felicidade é eterna.

Verônica Bastos
22OUT2002

sábado, agosto 19, 2006

BRILHO

Ele veio de mansinho
Aconchegou-se em meus braços
E adormeceu em meus beijos.

Veio como que do nada
E foi ficando um dia após outro
Acariciando dissimuladamente meu ego.

Chegou sorrateiramente
E roubou-me a razão
Apossando-se de meus sentidos.

Invadiu minha vida
Assim de tal maneira
Que dependia dele para viver.

Tornou-se dono da razão,
De meus beijos, meus abraços,
De meus sonhos e minha realidade.

Ele veio assim, do nada
E transformou-se no tudo,
No paraíso de minha existência.

Verônica Bastos
18JUN2001

DISTÂNCIA

Amo o longe
Na ânsia secreta de viver
O desejo crescente da paixão
Que despertas em mim.

Amo o longe
Porque o perto não te tem
E preciso viajar no tempo
Para encontrar teu prazer.

Amo a miragem
Porque nela vejo-te
E posso te-lo por inteiro
Mergulhado no édenico êxtase.

Amo a miragem
Porque não há distância
E todos os dias posso vê-lo
Dormir sereno em meus braços.

Amo ao longe e a miragem
No desejo pleno de teu amor,
Porque o longe não nos espera
E a miragem nos permite se ver.

Verônica Bastos
18JUN2002

DESEJO

Se minha ilusão for metida,
É a realidade que leviana
Fugiu de minha razão
E por alguns minutos deu-me vida.

Se for meu peito de herói,
São meus sonhos desmedidos
E que por pura vaidade
Apossou-se de minha existência.

Se minha alma for de mulher,
É meu corpo de donzela
Que perdida em desejo
Devaneou-se pelo mundo.

Se minha ilusão for realidade,
É que o herói sucumbiu-se em fantasias
A donzela desmanchou-se em prazer
E minha existência perdeu-se em volúpia.

Verônica Bastos
23ABR2002

DECLARAÇÃO

É inútil falar mais.
As palavras não pode verdadeiramente expressar o que sinto.
Não é para sentir-se culpado meu amor,
É apenas para continuar comigo.
Não agüento tua indiferença.
Não saberia viver sem te vê, te sentir, te tocar.
Preciso de você como jamais precisei antes.
Meus dias não fazem sentido,
Minha vida não tem razão de ser.
Não o quero só meu; simplesmente o quero.
Não consigo suportar a dor eminente de te perder.
Te perder é perder a razão de viver.
Preciso que continue comigo,
Ainda que para simplesmente sentar ao meu lado;
Para falar assuntos picantes,
Ir ao cinema assistir um filme sem graça,
Ou nos encontrar nos escondidos recantos de hotéis.
Preciso de você ainda que às escondidas, ainda que a distância.
Não sei ficar sem você.
Não tente me poupar, apenas seja o mesmo de sempre.
Quero me perder em você e me reencontra no minuto seguinte.
Quero desvendar mistérios e realizar fantasias.
Apenas a você confio meus segredos, meus desejos.
Não o quero preso a mim.
Quero apenas que se perca comigo em desejos
E depois nos reencontrar na amizade do dia-a-dia.
Simplesmente o quero livre, todo seu.
É inútil continuar falando.
Não há palavras para expressar com clareza o que sinto,
Simplesmente não posso te perder.

Verônica Bastos
19AGO2006

AO AMOR


Meu amor
Quero te pedir desculpas.
Diz o ditado que:
“Depois que inventaram as desculpas,
Ninguém mais bateu, nem matou”
Ainda assim quero te pedir desculpas;
Desculpas por não ser linda,
Desculpas por não ser rica
Nem ser a mulher que teus amigos admiram.
Quero pedir desculpas
Por eu ter me deixado apaixonar;
Por me preocupar contigo,
Por querer fazer parte de tua vida.
Quero pedir desculpas
Por desejar transformar teus dias em eterno éden.
Por querer contigo passar o resto da vida,
Ser fiel na alegria e na tristeza.
Desculpa por simplesmente ser a mulher que te ama.

Verônica Bastos
11MAI2006

sexta-feira, agosto 18, 2006

A PALAVRA


Ah! Se eu tivesse o dom da palavra
Como Alphonsus de Guimarães,
Cassimiro de Abreu ou Carlos Drummond de Andrade.
Eu não escreveria um amor que se foi,
Nem o amor que quero;
Escreveria o amor que tenho.
Falaria ao mundo de você,
Com o risco de parecer ridícula.
Descreveria seus cabelos escuros,
Seus lábios sensuais e olhos penetrantes.
Ah! Se eu pudesse registrar emoção.
Eu diria do meu corpo palpitante,
De minha boca sedenta,
De minhas mãos úmidas,
De minha razão muda diante de te.
Ah! Se eu tivesse o dom da música.
Como Bethowen,
Tom Jobim e Frank Sinatra;
Faria você delirar.
Transportar para o piano toda emoção, todo meu amor;
Faria o vento levar minha voz até seus ouvidos.
Ah! Se eu fosse e não sou.
Talvez me amasse o protótipo do que eu seria.
Amo-te em “Meus oito anos”, “Amor e medo”.
Quero-te como “Ismália” e “nA catedral”
Desejo-te como em “Carta” numa “Cidadezinha qualquer”.
De alguma forma sou o que queres. Ah! Se eu pudesse voltar no tempo.
Teria você em meus braços novamente.
Sentiria meus pés deslizarem na relva;
O vento despenteando os cabelos.
Voltaria no tempo apenas para te ter novamente,
Sentir nossos corpos nus fundirem em um só corpo.
Brincar sob a chuva,
Corre na areia da praia,
Acordar do seu lado com o sol entrando pela janela.
Voltaria no tempo apenas para te amar novamente.
Verônica Bastos
19MAR1999

CONTRÁRIO

Ao contrário de mim,
Ela era homem e também mulher.
Ela era deuses:
Conhecia o ódio e também o amor.

Ao contrário de mim,
Ela era extrovertida e também introvertida;
Conhecia a alegria e também a tristeza.

Ao contrario de mim,
Que sempre houve um contrário de mim
Ela era monstro e também princesa.

Ao contrário de mim,
Que nada sabia da vida
Ela conhecia e era o próprio mundo.

Ao contrário de mim
Que tinha o Eu preso
Ela era livre e também presa.

Ao contrário de mim
Que nunca via o contrário de mim,
Ela era parte do meu Eu obscuro
Onde Eu sou Eus
Partes contrárias de mim.

Verônica Bastos
21FEV1995

PERDIDA

Talvez não saibas,
Mas arde em mim à solidão
Consome-me como se fossem chamas dos infernos.
Queima minha carne, ferve meu sangue,
Tosta meus ossos.

Talvez não saibas,
Mas doem em mim os ventos, as brisas.
Estou tão cansada.
Meus pés congelam aos ventos fortes.

Talvez não saibas,
Mas morrem em mim as chuvas
Machuca-me, fere-me.
Rola dos meus olhos e morre aos meus pés.

Talvez não saibas,
Mas tormenta-me a noite fria,
Cega-me a alegria brilhante do sol.
Arde em mim à solidão de tua ausência.

Verônica Bastos
25MAI1995

COMO PODE...?

Como pode eu,
Embriagada pela águas límpidas,
Águas que escorre por entre as pedras,
Permanecer sóbria perante o mundo?

Como pode eu,
Viajar por tantos lugares,
Conhecer mundos distantes,
Sentada diante do mar?

Como sei eu,
Dos cantos dos homens maus,
Dos leitos selvagens de amor,
Se vivo perdida no infinito?

Como percorre o mundo, eu,
Se presa ao chão,
Despida da razão pelos ventos,
Permaneço no mesmo lugar?

Como conhece eu,
Se a morte chegou ou partiu,
Se o sol nasceu ou se pós,
Se vivo ou vegeto,
Se não encontro-me?

Como posso saber eu?
Como pode viver eu?
Como pode conhecer eu
Ou esquecer tantas coisas,
Se não na imaginação?

Verônica Bastos
16JAN1995

DANÇA

Beije-me mais uma vez,
Deixe me embriagar em teu prazer,
Sugar o nécta de tua alma,
Viajar nas estradas de teu corpo,
Descobrir os lugares esquecidos.

Abrace-me outra vez,
Faça-me perder os sentidos,
A noção do mundo ao redor.
Viajar nos caminhos de tuas mãos
Perder-me em teu éden.

Acaricie-me por mais um momento,
Descubra o mundo que desconheço,
Os caminhos que nunca percorreram.
Enlouqueça a mulher que há em mim
Ansiosa para despertar para a vida.

Faça-me sentir um pouco mais.
Sentir o princípio da existência,
Onde a morte não tem sentido,
A vida é o princípio do fim,
E o diálogo é um composto de corpos.

Deixe-me ser você enquanto você serei eu
Num mundo, onde os corpos falam,
A razão perde a voz,
A noção de tempo não existe
E tudo que há é uma conjugação de almas

Verônica Bastos
28JUL1995