sábado, março 08, 2008

EU, EU MESMO

Eu, eu mesmo...
Eu, cheio de todos os cansaços
Quantos o mundo pode dar.
— Eu...
Afinal tudo, porque tudo é eu,
E até as estrelas, ao que parece,
Me saíram da algibeira para deslumbrar crianças...
Que crianças não sei...
Eu...
Imperfeito? Incógnito? Divino?
Não sei...
Eu...
Tive um passado? Sem dúvida...
Tenho um presente? Sem dúvida...
Terei um futuro? Sem dúvida...
Ainda que pare de aqui a pouco...
Mas eu, eu...
Eu sou eu,
Eu fico eu,
Eu...

Álvaro de Campos

TE AMO


Quero dizer que te amo
Não porque é um bom partido, ou coisa do tipo
Talvez nem seja...,
Mas porque é o meu número.
Porque conto os minutos para te vê,
Decoro tua escala de serviço,
E tua voz deixa o mundo mais feliz.
Te amo, porque pensar em você me faz ri a toa,
E até seus defeitos são adoráveis.
Adoro quando parece distraído,
Mas me beija docemente.
Te amo antes de tudo
Porque chegou de mansinho,
Provocou minha ira e transformou em desejo,
Porque ficar sem você não tem mais sentido.
Te amo porque têm o que eu adoro e detesto,
É metade e contrário de mim.
Porque perto de você meu coração dispara,
E desperta os melhores sentimentos.
Te amo porque dançar contigo me deixa nas nuvens.
Porque me faz querer o que nunca quis,
Porque desejo cuidar de você como a mim mesma,
Porque dormir sem você não tem mais graça,
E porque nos completamos.
Te amo porque te amando, amo a mim mesma.

Verônica Bastos
06MAR2008

NOVO DIA

Quando o sol nascer será a hora.
Será a hora para recomeçar;
Uma nova chance para viver;
Mas estou presa ao passado recente,
E nada é mais desanimador.

Amanhã será um novo dia.
Um dia para encarar a verdade;
Uma oportunidade de colorir o futuro;
Mas a verdade é decepcionante,
E nada é mais doloroso.

Quando a noite dissipar será o momento.
O momento de transformar a realidade;
Abandonar as fantasias antigas;
Mas os sonhos novos estão partidos,
E nada é mais solitário.

Quando o sol nascer será à hora.
Será o dia de mudar de vida;
A rotina diária de solidão perpétua;
Mas estou tão sozinha,
E nada é mais decepcionante.

Amanhã será um novo dia.
Um dia para encontrar um novo amor;
Apaixonar perdidamente.
Mas não estou destinada a ser amada,
E nada é mais trágico.

Quando a noite dissipar será o momento.
O momento de planejar a felicidade;
Abrir as portas para as alegrias;
Mas o coração sangra dilacerado,
E nada é mais mortal.

Quando o sol nascer será a hora,
Será um novo dia, um novo momento.
Um momento para amar;
Mas estou cansada de sofrer;
E nada é mais sádico do que sonhos nulos.

Amanhã será um dia decisivo.
Será um dia para recomeçar ou desistir;
Para viver ou morrer;
Esquecer ou sofrer;
Mas não tenho controle dos sentimentos ,
E nada é mais incerto do que amar.

Verônica Bastos
07MAR2008

AMAR

Que temes amor meu?
Que estranha criatura te perturba?
Não escondas assim dele,
Se entregue aos devaneios.
Porque foges assim?
Permita-se perder nos braços dele
Sinta desprender de tuas entranhas
as pétalas de êxtase de vida.
Não temas amor meu.
Abra-se para o éden,
Deixe tua alma trilhar os caminhos,
As curvas da volúpia.
Porque temer a dor agora?
Se não se permite sentir
as emoções desvairada no íntimo,
as chamas convulsivas do corpo.
Permita-me guiar-te nesse mundo.
Não temas, a alma é pura.
Permita-se amar
Assim como eu te amo.

Verônica Bastos
23ABR2002

CERTEZA

Por você me despiria das assas;
Rasgaria minha alforria,
Enterraria meus sonhos.
Por você abriria o passado,
Vestir-me-ia de amarras,
Perderia minhas raízes.
Por você não viajaria sem destino,
Não dançaria aos ventos,
Sucumbir-me-ia em teus desejos.
Por você deixaria de ser quem sou.
Perder-me-ia no teu destino
E viveria o que traçastes para mim.
Mas por mim estou partindo.
Por você não me abandono;
Por amor a você serei simplesmente quem sou.

Verônica Bastos
24NOV2004

TODAS AS FORMAS

Ouvi todas as músicas do mundo;
Viajei por todas as línguas;
Li todos os romances já escritos,
Pesquisei os que ainda estão por ser.
Vasculhei todas as composições;
Desvendei todos os poemas;
Mas não achei nada.
Os artistas não foram capazes,
Não puderam inventar novas formas.
Então viajei pelos mares,
Pedi ajuda as estrelas e a lua.
Segredei ao sol e falei as flores;
Ainda roubei os cantos dos pássaros.
Andei por entre os animais;
Vi e revi o pôr e o nascer do sol.
Mas nada era mais bonito.
Invadir as cachoeiras, e os rios,
Despir toda a fauna e a flora.
Ainda ousei ir mais adiante
E vasculhei o universo.
Viajei, estudei, sonhei...
Procurei milhares de formas
Mas não existem,
Não inventaram maneiras melhores
Então te digo do jeito que sei.
EU TE AMO!
De todas as formas.

Verônica Bastos
21AGO2006

TATO















Minhas mãos estão estendidas,
Poderá pega-las se quiser.
Poderá levantar-se com elas
Ou afundar-se em seu orgulho;
Meu olhar não é de pena,
Não confunda a gratidão.
Mas a que devo ser grata?
A tua perfídia, ou a minha ilusão?

Devo agradecer-te
Pelas quedas e decepções,
Por derrubar toda a bondade;
Matar toda inocência,
E até o contato com o pior de mim.
Minhas mãos estão estendidas;
Pode tocá-las sem reservas,
Elas não trazem espinhos;
Ainda são pétalas como sempre.
Poderá apoiar-se nelas
E aconchegar-se em seu calor.
Mas entendo tua confusão,
Ainda sou a mesma sim.

Devo agradecer-te
Pelas noites de insônia,
Por destroçar todos os sonhos,
Matar as doces fantasias
E até o contato com o pior dos pesadelos.

Minhas mãos estão estendidas,
Pode segurá-las sem medo.
Elas trazem a compreensão.
Ainda são as que tantos de acarinhaste
Mas, não ficarão por muito tempo.
Sou simplesmente assim.
Mas há uma linha tênue: o limite
E existe até para o perdão.

Devo agradecer-te
Por tudo que matastes;
Pela falta de sensibilidade.
Mas por mostrastes minha força,
Aprendi a levantar.

Verônica Bastos
08FEV2007

BOAS VINDAS

Que pensas que és com todo esse preconceito?
Hoje me olha com repugnação.
Sim, tenho o peso da idade nas costas.
Mas, trago também em mim a sabedoria,
Algo que tu não podes compreender.
Ontem olharás com indiferença.
Não és capaz de ver o brilho de uma estrela
O apreço de uma pérola,
Simplesmente porque é negra.
Ainda desdenhou da bela que passava.
Mas que és tu que se permite tal insulto?
O que queres a gorda ou a magra?
A perfeição será imperfeita,
Em poucos tempos remotos.
Tu não és mais do que porção de matéria.
Onde está tua perfeição,
A não ser nos mesmos átomos de todos os seres?
Verei teu futuro não muito distante.
Tem olhos negros de tristeza,
Corpo pálido de doença, magro de ódio
Tronco curvo de solidão.
O que queres como companhia?
Por enquanto tens tudo: tua pela clara,
Tua alegre juventude, teu sucesso
Teus superficiais amigos...
E tua única real companhia, o preconceito.
Bem vindo o teu presente.
Salde teu futuro, meu nobre amigo.

Verônica Bastos
16JAN2007

CRENÇA


Além, muito além do horizonte,
Da relva, da mata, do morro,
Alguém espera por mim;
Não que sonhe com príncipes
Mas porque a ilusão ainda existe.
Além, muito além da realidade,
Alguém calmamente despertou,
Acordou o sol, adormeceu a lua.
Não que tenha poder
Mas porque a fantasia ainda vive.
Sendo, porém uma ponte.
Ponte entre o rio, a terra e o jorro.
O amor renasce sempre assim.
Não que seja dessa forma simples,
Mas porque o tempo resiste.
E além, muito além da saudade.
Um canto no universo soou
E um coração de alegria chorou.
Não que encontrasse o príncipe na rua
Fácil assim não há de ser
Mas porque o amor ainda existe.

Verônica Bastos
16MAR2002

HOJE


Só por hoje
Queria que o céu abrisse em anunciação a tua passagem
Só por hoje
Queria que o sol se escondesse para não ofuscar teu brilho.
Por hoje queria que o tempo parasse,
Curvasse a teus pés como um fiel súdito a seu deus.
Por hoje queria que o vento soprasse,
Que presenteasse o universo com teu cheiro doce.
Só por hoje
Queria que o mundo conhecesse tuas virtudes
que meus olhos vêem.
Só por hoje
Queria que as flores desabrochassem
em um cumprimento mútuo de doação total.
E ainda por hoje
Distribua as pétalas a acariciar teus pés
Só por hoje ou pela eternidade
Queria que descobrissem a beleza
Em meio a tantos espinhos.
Por hoje ou pela eternidade
Reconhecesse em mim tua razão de viver
Como é para mim.

Verônica Bastos
08MAR2003

DÚVIDA

Porque me tomas assim em teus braços,
Se não podes acalentar minha alma algoz?
Tuas mãos aquecem meu corpo,
Para mais tarde me entrega ao frio mórbido.
Teus beijos trazem sonhos,
Para logo mais me dar aos pesadelos.
Deixe-me ficar sem te.
Não terei que renunciar a nada.
Se me tens aos teus braços
Renunciarei ao teu árido calor.
Abandonar-me-ei ao simples nada.
Então me deixe aqui se te.
Porque tomas meu corpo de encontro ao teu,
Se não pode deixá-lo meu?
Teus olhos trazem volúpia,
Logo mais, o frio do inverno íntimo.
Teu corpo traz êxtase,
E mais tarde o triste vazio da solidão.
Tua voz me leva ao clímax,
Depois, me abandona ao ruído do silêncio perpétuo.
A vida é muito pouca sem te.
Mas, deixe-me ficar nula,Um bom dia!...
É pouco demais para meu ser insaciável,
Para meu corpo sedento de te.
Não penses que partes sem mim.
Tudo que tenho vai contigo:
Meu coração, meu ser, minha vida, meu amor.

Verônica Bastos
02MAI2000

AVE

Há muito tempo...
As gaiolas estão fechadas,
Os sorrisos estão calados
E às vozes estão veladas.
Há tempos e tempos...
Que o sol está pálido
A lua plácida, muda,
Os ventos estão surdos.
Há tempos, muito tempo...
Que as portas batem,
Que a noite fria uiva,
E as gaiolas aprisionam.
Há tempos e tempos...
Que tudo vejo, nada sinto;
Tudo penso, nada vivo;
Há tempos estou em gaiolas.

Verônica Bastos
23ABR2002

LIVRE

Porque me tomás amor?
Não sou sua.
Não sou de ninguém.
Minhas raízes são aéreas;
As razões sem regras.
Meus caminhos são bifurcações;
Não sou árvores, sou pássaros;
Não tenho dono, nem laços.
Sou do tempo, do povo.
Sou assim sem forma, sem cor;
Sem limites, sem reservas, sem medo;
Não tenho passado, nem futuro.
Sou uma célula em metamorfose,
Alucinada pela vida.
Sou assim amor:
Toda sua, toda minha;
Sou mulher.

Verônica Bastos
13ABR2002

BEIJA-ME


Beije-me mais uma vez,
Deixe me embriagar em teu prazer,
Sugar o nécta de tua alma,
Viajar nas estradas de teu corpo,
Descobrir os lugares esquecidos.

Abrace-me outra vez,
Faça-me perder os sentidos,
A noção do mundo ao meu redor.
Viajar nos caminhos de tuas mãos.
Perder-me em teu éden.

Acaricie-me por mais um momento,
Descubra o mundo que desconheço,
Os caminhos que nunca percorreram.
Enlouqueça a mulher que há em mim
Ansiosa para despertar para a vida.

Faça-me sentir um pouco mais.
Sentir o princípio da existência,
Onde a morte não tem sentido,
A vida é o princípio do fim,
E o diálogo é um composto de corpos.

Deixe-me ser você enquanto você serei eu
Num mundo, onde os corpos falam,
A razão perde a voz,
A noção de tempo não existe
E tudo que há é uma conjugação de almas.

Verônica Bastos
28JUL1995

PARTIDA

Estou te deixando agora.
Nada quero de te.
Deixo-o como que deixa pegada.
Não olharei para traz,
Nem terei saudades do passado.
Deixo-o agora.
Andarei pelo mundo
Perdida em pensamento,
Buscando sonhos que não encontrei em te,
Mas viverei uma liberdade linda.
Estou cortando laços,
Abandonando ciclos.
Caminharei em direção a novos sois;
Não quero a tempestade em minha vida.
Estou abraçando um novo ciclo.
Um dia estarei de volta,
Mas não serei a mesma mulher,
Nem tu serás o mesmo homem,
Mas não buscarei o passado.
Estarei de volta, mas no futuro.
Deixo-o agora
Para que vivas como escolhestes.
Eu seguirei mais adiante.
Não posso me prender a te.
Deixo-o com suas dores,
Com seus amores, com seu presente.
Deixo-o com tudo que vivemos.
Seguirei com as cicatrizes.
Agora estou de novo no mundo.
É hora de dizer adeus,
Sufocar a saudade.
É hora de partir sem magoas.

Verônica Bastos
28AGO2006

AVESSO

Não me olhe assim,
Estou atendendo teu pedido silencioso:
Sairei de tua vida agora.
Mas não quero ouvir teu choro;
Não tenho tempo para tuas reclamações.
Lembre que foi você quem quis assim;
É você quem me manda embora,
E não me olhe com se desejasse que eu ficasse,
Foi você quem escolheu.
Agora durma com teu preconceito,
Com tua estatura de menino.
Levarei minha figura de mulher,
Arrastarei meus sonhos para longe de te.
Não reclame se a solidão voltar,
Nem vá buscar consolo em meus passos;
Cobrirei meus rastos,
A poeira não me alcançará.
Não mande recados,
Não quero ouvir tuas músicas,
Não preciso de meios termos;
Preciso de você, mas vou embora.
Arrancarei minhas raízes,
Abrirei minhas assar em desuso;
Pousarei em qualquer lugar.
Mas não encontrarás minha trilha,
Nem andarás em minha estrada.
Saiu de tua vida agora,
Mas não esqueça na hora de me procurar:
Tu me expulsaste.

Verônica Bastos
31AGO2006

FÊNIX

Agora não quero qualquer coisa.
Quero o melhor de te.
Agora não quero os restos,
Não me contento com pouco.
Quero o teu tudo.
Não quero mais ser a tua sombra,
Sempre um passo atrás de te.
Quero está ao teu lado.
Mas definitivamente me renegaste.
Não há declarações que te acorde;
Não existe sensibilidade em ti,
Nada pode romper teu preconceito.
Então devolva-me.
Preciso de mim inteira,
Para ser novamente uma fênix.
Não tem o direito de me fazer sangrar;
Não pode permanecer dono de mim.
Então devolva-me
Ou renasça comigo
Por que não suporto mais te amar,
Não agüento mais te ter sozinha.


Verônica Bastos
01SET2006

BENS


O que sou?
Para mim o que penso.
Ou será que sou carros, casas, dinheiro?
Talvez seja empresas também...
Qualquer outra coisa é mera utopia.
Mas posso ser apenas beleza;
Coração bom, puro;
O tipo boa praça, amiga de todas as horas;
Ou será que sou shopping, desfiles, moda?
Talvez seja viagens também...
Reduzida a objetos inanimados.
O que admiram?
Para mim a inteligência,
Ou será bebidas, festas, requintes?
Talvez seja cartões de crédito também...
Rebaixada a condição plástica.
Sou o que posso comprar,
Sou minha ostentação
Sou simplesmente materiais;
A face inerte do homem
Rebaixada a condição de ser nada,
Simples objetos descartáveis.


Verônica Bastos
30AGO2006

PERDIDA

Talvez não saiba,
Mas arde em mim à solidão.
Me consome como se fossem chamas dos infernos.
Queima minha carne, ferve meu sangue,
Tosta meus ossos.
Talvez não saiba,
Mas doem em mim os ventos, as brisas;
Estou tão cansada.
Meus pés congelam aos ventos fortes.
Talvez não saiba,
Mas morrem em mim as chuvas.
Machuca-me, fere-me,
Rola dos meus olhos e morre aos meus pés.
Talvez não saiba,
Mas me tormenta a noite fria,
Cega-me a alegria brilhante do sol.
Arde em mim à solidão de tua ausência.

Verônica Bastos
25MAI1995