segunda-feira, agosto 28, 2006

CULPADO

Percebo-lhes os olhares de longe
Mas nada sinto, nada me ofende.
Não tenho mais tempo para isso.
Percebo a repreensão em seus gestos.
Mas como ousa criticar-me?
Como ousa acusar-me com teus gestos,
Tuas palavras, teus olhares?
Não tem o direito de buscar o que já não sou.
Não sei em que parte do caminho me perdi,
Nem em que profundeza ficou minha essência,
Mas sei o que sou hoje.
Não tem o direito de julgar-me,
Sou apenas o que restou de tua perfídia.
Não o culpo; não me restaram sentimentos para isso.
Não há raiva ou alegria
Não há amor ou ódio, há apenas uma vida morna.
Não me culpe pelo que fizestes.
Não posso ser acusada do que me transformastes.
Os olhos sem expressão não são meus;
São os que tu me destes;
A fisionomia dura, não é minha;
É a que tu esculpiste em minha imagem.
A dureza dos gestos, a ausência de alma.
Nunca morou em mim
Mas foi em que me transformastes.
Porque cobra sentimentos,
Esquecestes que matastes meu coração?
Porque busca uma alma,
Esquecestes que a aprisionou em tempos remotos?
Não procure o que roubastes.
Não preciso que me devolva
Ainda posso renascer e apagar as cicatrizes.
Ainda posso libertar-me de te;
Mas não se esqueça que és um assassino,
E meu renascimento o condena a pena de morte.

Verônica Bastos
28AGO2006

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